DOM DE LÍNGUAS: É O LABASHURIA?

Você já viu alguns irmãos pentecostais falando uma língua muito estranha no culto?  Pois é, esse fenômeno é chamado de "dom de língua" ou como dizem outros "falar em mistério.” Para eles a língua falada nessas manifestações é uma língua que não existe em nenhum lugar do planeta terra. Um idioma totalmente desconhecido dos filhos dos homens. Nessas igrejas o ato de falar em línguas demonstra a atuação direta do Espírito de Deus. Mas será que a língua estranha falada na Bíblia é a mesma língua estranha falada por essas igrejas pentecostais de hoje em dia? 

Não tem como falar sobre esse tema sem analisar o que aconteceu quando Deus derramou o seu Espírito sobre os discípulos e os fez falar em outras línguas.

        “Cumprindo o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar, e de repente veio do céu um som como de um vento veemente e impetuoso e encheu toda a casa em que estavam reunidos. E foram vistas por eles línguas repartidas como que de fogo as quais pousavam sobre cada um deles.” Atos 2:1-3

        Os versos acima falam do momento sublime em que Deus derramou de seu Espírito sobre os crentes em Jesus. No antigo testamente quando um profeta recebia o Espírito ele profetizava. Porém, no dia do Pentecoste (feriado judeu) os irmãos receberam o Espírito de Deus e falaram em outras línguas. Prestem atenção que o texto usa a palavra “língua” no plural, ou seja, eles falaram em outras “línguas”, havia a manifestação de mais de uma língua ali.

        “E em Jerusalém estava habitando judeus varões religiosos de todas as nações que estão debaixo do céu. E correndo aquela voz ajuntou-se uma multidão e estava confusa porque cada um os ouvia na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam dizendo uns aos outros: Pois que? Não são Galileus todos esses homens que estão falando? Como nós ouvimos cada uma falar na língua que somos nascidos? Somos partos, medos, elamitas...e os que habitam na Mesopotânia, Capadocia, Ásia, Frigia, Egito e Líbia...cretenses e Árabes...E todos nós temos ouvido falar das grandezas de Deus” Atos 2:5-12  

       

        Esses versos mostram quais tipos de línguas foram faladas quando o povo de Deus recebeu o Espírito Santo, pois os judeus chegaram de vários países para festejar em Jerusalém e quando chegou lá ouviram os apóstolos falando o evangelho na mesma língua dos países de onde eles vieram.Muitas dessas línguas não são mais conhecida hoje, porém a língua egípcia e a língua árabe é bem próxima de nós.

        Então até aqui concluímos que quando os apóstolos receberam o Espírito Santo eles receberam o dom de falar em outras línguas, ou seja, línguas de nações , idiomas de outros países. Eles eram judeus e muitos deles muito simples e pobres só que com o dom sobrenatural de Deus eles conseguiram falar com fluidez e desenvoltura vários idiomas.

        Se o dom de línguas em Atos 2 representa idiomas de nações que existem aqui na terra, como é que surgiu a teoria da “língua dos anjos” ou “língua estranha” como língua que ninguém conhece?

        “Por que o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus, porque ninguém entende e em espírito fala de mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação. O que fala em línguas edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”. I Coríntios 14:1-4

        As pessoas leem os versos acima e concluem duas coisas. Primeiro, o dom de língua seria uma língua que ninguém entende. Segundo, o dom de língua edificaria só a pessoa que fala. Elas interpretam “ninguém” entende como sendo nenhum morador do planeta. Em outras palavras, para elas, a língua estranha é uma língua que não pode ser interpretada por nenhuma pessoa na terra, creem que só Deus pode interpretá-la.

        Assim, como conciliar o dom de línguas de Atos 2 onde todos entendiam o que os apóstolos falavam com o dom de línguas de primeiro Coríntios 14 onde ninguém entendia? Paulo estaria falando de um novo tipo de dom de língua? Como entender essa aparente contradição?

        Acontece que em Atos 2 é dito que cada um ouvia as grandezas de Deus no próprio idioma de seu país de origem . Assim, o egípcio entendia a pregação na língua egípcia, porém não entendia a pregação na língua árabe e vice versa. A língua árabe para um egípcio que nunca estudou tal língua era uma língua estranha. Desse modo, quando Paulo fala de língua estranha ele não está falando de nenhuma língua totalmente desconhecida dos seres humanos, ele simplesmente está falando que alguém estava falando, por exemplo, árabe ou egípcio em uma igreja que só tinha gregos, isto é, falando uma língua estranha para igreja.

        “Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis como se entenderá o que se diz? Porque estareis como que falando ao  ar” I Coríntios 14:9

        Aqui Paulo fala da importância dos ouvintes entenderem aquilo que se diz. Ele fala que se os ouvintes não entenderem o que estamos falando as nossas palavras não cumprirão o objetivo da comunicação que é a de transmitir uma ideia ou informação.    

“Pelo que , o que fala em língua estranha ore para que a possa interpretar. Porque se eu orar em língua estranha o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto. Que farei pois? Orarei com o espírito mas também orarei com entendimento, cantarei com o espírito , mas também cantarei com o entendimento” I Coríntios 14:14,15

Vamos imaginar que um irmão lá na igreja de Corinto tivesse recebido o dom sobrenatural de falar em japonês. Esse irmão na hora de orar ou cantar em japonês ele também deveria saber o que ele estava falando.  Por isso que Paulo fala que o irmão deveria orar para interpretar aquilo que ele mesmo estava dizendo.

“Dou graças ao meu Deus porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes prefiro falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para instruir os outros do que dez mil palavras em língua desconhecida” I Coríntios 14: 19

Nesse verso acima, Paulo está falando de que língua? Língua de nações ou línguas de anjos? Paulo está falando que sabe muitos idiomas, porém ele prefere falar poucas palavras na igreja e que essas palavras sejam entendidas que falar dez mil palavras em outros idiomas que a igreja não conhece.

“Se toda a igreja se congregar num lugar e todos falarem línguas estranhas e entrarem pessoas que não conhecem a palavra ou se entrarem pessoas infiéis, elas não vão pensar que vocês estão loucos?” Atos 14:23

Imagine você, uma pessoa vai visitar uma igreja para buscar uma palavra de fé ou de esperança e quando chega em uma igreja no Brasil vê todos os irmãos cantando, pregando e falando só em Coreano, o que essa pessoa vai pensar? Tô fora!

Ou seja, todos esses textos acima provam que a língua estranha que Paulo tanto fala era nada mais nada menos que alguns idiomas desconhecidos da igreja de Corinto. A língua era estranha para quem? Para todas as pessoas do planeta? Não! As línguas eram estranhas para os irmãos que frequentavam a igreja local de Corinto. O irmão começava a cantar em Japonês dentro de uma igreja que só tinha grego, aí não dava. A pessoa que cantava ou pregava entendia o que estava falando e era edificado, mas a igreja não. Só Deus entendia! Diante disso, qual foi a orientação de Paulo?

“Se alguém for falar em língua estranha faça isso por dois ou quando muito três e cada um por sua vez e que haja interprete. Mas se não houver interprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” I Coríntios 14:27,28

Quem tinha o dom de falar outros idiomas deveria falar no máximo até três pessoas e cada um na sua ordem. E a condição máxima para falar em outro idioma era a de ter interprete. Caso o interprete faltasse, todos que falavam outras línguas deveriam ficar quietinhos orando mentalmente.  

      "Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos e nem assim me ouvirão diz Deus. De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos ..." I Coríntios 14:21,22

De acordo com o texto acima por que o Senhor deu o dom de língua? O dom de língua foi dado como um sinal para os judeus incrédulos. Eles pediam um sinal para poder crer no evangelho e o Pai celestial deu o sinal fazendo com pessoas falassem outros idiomas sem nunca ter estudado o tal idioma. 

Então quais são as característica do dom de língua verdadeiro? 

• São idiomas de nações
• São várias línguas de nações 
• É um sinal dado aos judeus incrédulos
• Deve ser entendido por quem fala
• Deve ser acompanhado de interprete
• Deve ser falado por no máximo três pessoas
• Deve ser falado em ordem, isto é, alguém só pode falar depois que o outro terminar de falar. 

E hoje, é assim que as igrejas interpretam o dom de língua?  O que eles falam não pode nem se quer ser chamado de língua, pois os sons que eles  balbuciam na hora do "fenômeno" não expressam características de nenhum idioma: "labaxuriasss, cantararamáss, sharamamaia”. Não dá para perceber se aquilo que se fala representa uma variedade ou uma pluralidade de línguas, já que parece que a "língua" é a mesma sempre. Isso é sinal para judeu?  E mais, a pessoa que fala essa "língua" estranha nem ela entende nada do que diz. A maioria das vezes não tem interprete e quando tem fala coisa com coisa, isto é, deixa claro que a interpretação não acompanha o ritmo da fala. Se tiver 200 pessoas na igreja pelo menos 70 vai falar em línguas e todos falam ao mesmo tempo em um clima que mistura gritaria e êxtase espiritual e que muitas vezes, dependendo do movimento, é claro, chega até assustar. Em outras palavras, você acredita realmente que esse dom de línguas aí dessas igrejas é o mesmo dom de língua genuíno da Bíblia? 

     Então fica claro que a língua estranha que se fala nas igrejas pentecostais hoje não é a mesma língua estranha falada pelos discípulos lá nos tempos de Paulo. Naquele tempo a língua estranha era alguns idiomas falados por alguns irmãos e que a igreja não conhecia.  Paulo escreveu para orientar a igreja e ensinar como proceder diante da questão, ou seja, se quisesse falar outros idiomas na igreja que apresentasse um interprete. Algo bem diferente do que acontece hoje. A língua estranha falada nas igrejas atuais não são línguas de nações. Na verdade o que eles balbuciam em seus cultos nem se quer pode chamar de língua ou idioma. Tal doutrina não passa de um grande erro de interpretação do que Paulo falou. Não conseguem perceber que a língua é chamada de estranha porque o povo local não conhecia a língua e não porque a língua é desconhecida de todos os moradores da terra. Assim, se você ainda está nesse de enrolar a língua no culto e achar que isso é poder de Deus, sai dessa meu irmão, Deus não trabalha assim, isso é fogo estranho!