domingo, 14 de agosto de 2016

DANIEL 8: PONTA PEQUENA E AS TARDES E MANHÃS

Informações prévias sobre a profecia de Daniel 8 que podem ajudar na interpretação do texto

Animal = Reino

Chifre = Rei ou dinastia 

Nota: No contexto do livro de Daniel há quatro grandes reinos sobre a terra. O primeiro, Babilônico, o segundo, Medo Persa, o terceiro, Grego e o quarto, Romano. O quarto reino seria dividido (Europa) e Jesus volta justamente na época dessa divisão. Vale lembrar que em profecia, um reino só surge quando o outro perde o domínio. Um reino não pode surgir enquanto o outro está de pé. Isso é fundamental para entender a profecia de Daniel 8.

Carneiro: Média Pérsia (2º reino sobre a terra). Peito de prata da estátua de Daniel 2
2 chifres : Dois reis, Dario e Ciro

Bode = Reino grego (3º reino sobre a terra). Ventre de bronze da estátua Daniel 2.
Chifre grande=  Rei Alexandre Magno
4 chifres  = 4 reis  (Cassandro, Lísimaco , Seleúco e Ptolomeu)

4 Ventos = 4 cantos (leste, oeste, norte e sul) que pertencem a um domínio.

Exército ou estrelas do céu = povo de Deus

 Príncipe do exército ou Príncipe dos príncipes = Sumo sacerdote (Números 3:32, Atos 23:5)

Chifre pequeno = Interpretação controversa (Alguns acham que é Roma outros acham que é um rei chamado de Antíoco Epifânio IV)

    Nesse estudo buscamos enfatizar aspecto da profecia que fala sobre o chifre pequeno, por isso a ênfase se fará a partir do verso 8 do capítulo 8.    

   E o bode se engrandeceu em grande maneira e estando em sua maior força foi quebrado seu chifre grande. E no seu lugar nasceram quatros chifres notáveis para os quatro ventos do céu” Daniel 8:8

  Os quatro ventos dos céus são interpretados como sendo os quatro pontos cardeais (leste, oeste, norte e sul). No entanto, os pontos cardeais no contexto Bíblico estão relacionados somente às regiões especificas do domínio grego. Ou seja, ao dizer que cada ponta se tornou notável para cada um dos ventos o texto quis dizer que cada rei estendeu seu domínio para um lado e para uma região dentro do domínio grego. Logo, a chave para o entender o versos seguintes é entender que o leste, o oeste, o norte e o sul fazem referência somente às regiões que pertenciam ao reino divido da Grécia. As 4 pontas não se tornaram notáveis para os quatro cantos do planeta, já que muitas regiões e civilizações ficaram fora do domínio de Selêuco, Ptolomeu, Casandro e Lísimaco.  

E de um deles saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra formosa” Daniel 8:9

  Há uma discussão para saber se o chifre nasce de um chifre ou de um vento. Contudo isso é indiferente, uma vez que nascendo no chifre ou nascendo no vento o texto estaria dizendo uma mesma coisa: Um outro chifre, além dos quatro, nasceu na cabeça do bode, isto é, um rei surgiu dentro dos domínios da Grécia. Os quatro ventos representam as 4 regiões da Grécia que estavam ao norte, ao sul, ao leste e ao oeste. Um rei nascendo do vento também pode ser interpretado como um rei surgindo, por exemplo, do lado oeste das terras que pertencia à Grécia. Portanto, a interpretação correta é que de um dos lados (ventos) e regiões que pertenciam à Grécia surgiu um rei e esse rei, tomando como referencia o lugar de onde ele saiu, estendeu seu domínio ao sul, ao oriente e para a terra formosa (Jerusalém).

A ideia de que o rei que representa o chifre pequeno nasce em uma região que pertence a Grécia exclui totalmente a interpretação do chifre pequeno como sendo Roma, já que Roma não surge de nenhuma região que pertencia à Grécia.   

Além do mais, há muitos outros motivos que impedem de ser Roma esse chifre pequeno. Primeiro, a ponta pequena surgiria no tempo do fim do reino grego (Daniel 8:23). Tempo do fim no contexto é o nome que se dá ao período que expressa os últimos anos de domínio e governo do terceiro reino (Grécia). Do ponto de vista interpretativo Roma como o quarto reino não surge no tempo do fim da Grécia. Roma só pode surgir depois da queda total da Grécia. A profecia deixa bem claro isso com a visão da estátua de Nabucodonosor onde o metal ferro (Roma) da estátua só aparece depois que o bronze (Grécia) é eliminado. Falar que as pernas de ferro aparecem enquanto o bronze ainda domina é um erro interpretativo. Perceba no contexto da profecia que para indicar o fim do segundo reino (Média Pérsia) a profecia mostra o carneiro sendo morto pelo bode. Você encontra algum indício de que o bode morre na profecia de Daniel 8 ? Claro que não! Então podemos deduzir que o chifre pequeno faz referência ao surgimento de um rei grego e não do surgimento do quarto reino que no caso é Roma.

    Segundo, dizer que o chifre pequeno de Daniel 8 é Roma é uma forma de demonstrar total falta de atenção no que acontece no contexto da profecia. Os dois chifres na cabeça do carneiro representam um reino universal ou dois reis ? O chifre grande na cabeça do bode representa um reino universal  ou um rei ? Os quatro chifres que estavam na cabeça do bode representam um reino ou quatro reis? Nessa profecia um chifre é sempre um rei ou uma dinastia e não um reino. Veja a diferença. O terceiro reino, grego, em  Daniel 8 é representado por um animal, o bode, e um rei ou dinastia é representado por um chifre. Ou seja, mesmo que o chifre morra, ou caia, o reino permanece como aconteceu com a ponta notável do bode que se quebrou e o bode continuou vivo. De outro modo, o animal como reino universal pode morrer e os chifres, dinastias, seguirem atuante. Isso fica evidente com o reino da Grécia. Ela deixa de ser o terceiro reino em 168 AC, mas uma de suas dinastias (Selêucida) permanece até o ano de 64 AC. Não se pode confundir reino universal com reis e dinastias. Se Deus quisesse mostrar o surgimento do quarto reino sobre a terra (Roma) nessa profecia ele teria mostrado um outro animal além do carneiro e do Bode e não apenas um chifre. 

   Vale lembrar que não podemos confundir o chifre pequeno de Daniel 8 , que surge no 3º reino, o grego, com o chifre pequeno de Daniel 7, que surge no 4º reino, depois da divisão de Roma, 476 DC.

“...e  alguns do exército e das estrelas deitou por terra e os pisou...E se engrandeceu até ao príncipe do exército e dele tirou o sacrifício diário e lugar do seu santuário foi deitado abaixo... “ Depois ouvi um santo que falava com outro santo. Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército a fim de serem pisados?  E ele me disse : “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs e o santuário será purificado””. Daniel 8:10;13,14

                A questão do juízo investigativo em 1844 DC
       
Como vimos acima, o chifre pequeno não pode ser Roma porque Roma não surgiu de nenhum domínio grego. Outra interpretação equivocada que se faz dessa profecia é a interpretação que diz que o tempo das tardes e manhãs representa um tempo de 2300 anos que se estende de 457 AC à 1844 DC. Creem com base nessa profecia que em 1844 Jesus entrou no lugar santíssimo do santuário celestial para cumprir a profecia que diz que o santuário seria purificado, isto é, expiar os pecados das pessoas que estão registrados nos livros no céu.  

A hora de compreender o que o texto fala 

Para interpretar os textos Bíblicos temos que levar em conta dois princípios fundamentais: Compreensão do que se fala e compreensão do que se diz. Compreender o que se fala é perceber ou entender tudo o que está na superfície do texto como palavras, informações, sequencia de ideias, tema, diálogos, características de personagens etc.

Compreender o que se diz é perceber ou entender os sentidos e intenções do texto. E para isso, muitas vezes, lançamos mão da interpretação do contexto (Quando escreveu?  Quem escreveu? Para quem ou para que povo? Quais questões relevantes geraram a produção do texto?) Outros textos da Bíblia podem ajudar no tema? ) Da interpretação da figura de linguagem (É uma metáfora? É uma metonímia?) Da interpretação da simbologia (o que é uma besta em profecia?).  E muitas vezes da interpretação da palavra dentro da cultura do povo que recebeu a Bíblia (Como o povo de Deus de antigamente entendia essa palavra?) Essa última é muito importante, pois um brasileiro não entenderia muito bem porque um só hipopótamo é chamado na língua hebraica de hipopótamos no plural. Teria que conhecer a cultura do povo para interpretar.

   Assim, se a pessoa não fizer uma boa compreensão do que o texto fala, ela não compreenderá o que o texto quer dizer. O implícito e as entrelinhas são encontrados no que está explícito. Desse modo, levando em conta o tema aqui tratado, se o texto fala que um certo rei tomou o santuário e o proibiu de realizar os serviços diários por um período e essa informação não é levada em conta na interpretação, certamente que a pessoa irá extrapolar, ou seja, irá entender algo que o texto nunca disse.

   Partindo desse pressuposto, temos que antes de interpretar o texto, captar tudo o que está explícito em suas linhas. Por isso levantamos algumas ações do chifre pequeno para posteriormente tentar interpretar corretamente sem cair em extrapolações.

       As ações do chifre pequeno      
  • Entra na terra gloriosa
  • Persegue as estrelas do céu
  • Persegue o príncipe do exército
  • Toma o santuário e tira o holocausto diário do príncipe do exército
    Há duas coisas importantes que o estudante da Bíblia não pode deixar de perceber na leitura desse texto. Primeiro, no texto o príncipe do exército é quem apresenta os holocaustos e os sacrifícios. Segundo, o príncipe perde o santuário para o chifre pequeno e fica sem oferecer os holocaustos diários. Veja “Ele engrandeceu até o príncipe do exército e dele tirou o sacrifício diário e também o lugar do seu santuário foi deitado abaixo”.
  •  Pisa o santuário e persegue o exército por 2300 tardes e manhãs
     Outra coisa importante que não pode passar despercebido na leitura do texto é que o tempo das tardes e manhãs é o tempo que expressa a duração da perseguição ao santuário e ao exército.  No verso 13 alguém pergunta: “Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército para serem pisados?” A preposição “Até” remete ao fim de um período, ou seja, ele quer saber sobre a duração da perseguição ao santuário e ao príncipe mencionado nos versos anteriores. O verso 14 também começa com a preposição “Até" : "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs”. Alguém pergunta “Até quando” e o outro responde “Até tanto e tanto”. Perceba no contexto que a perseguição ao exército e a tomada do santuário marca o inicio da visão da tarde e manhã e a purificação do santuário marca o fim desse período. Essa compreensão é de suma importância para não se extrapolar mais a frente com a interpretação do sentido. Lembrando também que nem estamos interpretando nada ainda, estamos apenas levantando dados explícitos no próprio texto. 

A hora de interpretar e compreender os sentidos

   Então, depois da compreensão dos dados e informações explícitas do texto vamos agora partir para a interpretação e para a captação de sentidos. Antes, porém é importante ressaltar como que algumas interpretações, por não realizar a devida percepção, extrapolam o que o texto quis dizer. Como alguns movimentos religiosos interpretam essa profecia de Daniel 8?

   Primeiro, interpretam o chifre pequeno como sendo Roma imperial, quarto reino sobre a terra. Segundo, o santuário mencionado no texto é interpretado como o santuário destruído por Roma no ano de 70 DC. Acreditam que o chifre pequeno pode ser tanto Roma Imperial como Roma papal. Desse modo, possuem dupla interpretação para os versos. Interpretam que a visão das tardes e manhãs representa um período de 2300 anos que vai de 457 AC até 1844 DC. Creem que a purificação do santuário mencionado no verso 14 é a purificação do santuário celestial dando inicio ao período que se chama de tempo do juízo.

   Como já falamos, a falta da devida compreensão daquilo que se fala, gera uma compreensão equivocada daquilo que o texto quer dizer. Veja os comentários abaixo com refutação a muitas dessas interpretações.  
                      
   O santuário mencionado no texto não pode ser interpretado como o santuário terrestre que foi destruído por Roma em 70 DC. É importante entender o contexto Bíblico. No antigo testamento o príncipe do exército era os sumo sacerdotes da tribo de Levi e no novo testamento o príncipe do exército é o nosso sumo sacerdote Jesus. Na visão o príncipe do exército se refere a Cristo ou ao sumo sacerdote levita? No texto de Daniel o príncipe do exército perde totalmente a capacidade de oferecer os holocaustos diários no santuário inclusive perdendo o acesso ao templo. 

  Isso revela duas coisas importantes. Primeiro, o príncipe do exército mencionado no capítulo não pode ser Cristo, já que Cristo nunca ofereceu holocausto no templo. Cristo nunca deixou de entrar no templo. Seria um erro total “espiritualizar” isso e dizer que holocaustos aí quer dizer outra coisa. Certamente que o texto está falando de algum sumo sacerdote da tribo de Levi que organizava os holocaustos diários. Segundo, se a perseguição ao templo se dá em um contexto em que vigorava os sumos sacerdotes da tribo de Levi então o texto não poderia se referir ao templo de Salomão que foi destruído no ano 70 DC. Nessa época, no tempo da nova aliança, o templo que estava em vigor já era o templo ou santuário celestial cujo príncipe é Jesus. Logo, a interpretação correta da visão é que algum sumo sacerdote iria perder, por causa de uma perseguição, o direito de entrar no santuário e de oferecer holocaustos e isso nos tempos do antigo testamento. Isto é, o texto fala do santuário em um contexto anterior a primeira vinda de Cristo.

   Dele tirou o holocausto diário e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo...até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora Daniel 8:12,13

   “E o povo do príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário e seu fim será um dilúvio ...virá o assolador...” Daniel 9:26,27

  Muitos relacionam o termo “assolar“ do capítulo 8 ao “assolador” e a destruição do capítulo 9, o que é um erro muito grande. No capítulo 8 o termo assolar se refere à “transgressão assoladora” , ou seja, uma transgressão da lei que causou espanto. No capitulo 9 o assolador é um rei destruidor, algo bem diferente. A mesma coisa se dá com o termo “deitar por terra” da visão da tarde e manhã sendo interpretada como “destruir” ou “derrubar”. Só que “deitar por terra” no contexto não é literal, mas sim figurativo. O capítulo 11 de Daniel, falando do mesmo assunto, esclarece um pouco mais essa questão “Dele sairão forças que profanarão o santuário e tirará os holocaustos diários, estabelecendo a abominação desoladora”. Daniel 11:31. Isto é, deitar por terra o santuário no contexto é, além de impedir os serviços diários do santuário, profanar um lugar extremamente sagrado que representava o lugar da habitação da Glória da majestade. Desse modo, “deitar por terra” no capítulo 8 é um termo conotativo (figurativo) e não literal. A destruição literal do santuário só acontece no capítulo 9, mas aí já é outra profecia.  

   Se a visão do holocausto contínuo se referisse literalmente à destruição romana do santuário, o texto não teria dito que o santuário seria purificado depois de 2300 tardes e manhãs, ok? Afinal, como já falamos, o tema do texto é santuário terrestre e não santuário celestial. Do contrario deveríamos contar 2300 tardes e manhãs a partir do ano 70 DC e esperar no final desse período uma purificação do templo de Salomão, o que seria uma extrapolação.

   E também ao entender que o santuário foi profanado e que houve uma transgressão assoladora dentro dele entendemos também porque no final das tardes e manhãs deveria acontecer uma purificação dentro do templo. Purificação no caso seria uma cerimônia para limpar e tornar santo novamente algo que foi maculado. Por isso é um erro terrível dizer que a purificação do santuário no texto se refere à purificação do santuário celestial. É um grande equivoco relacionar a purificação que se fazia no dia do juízo por causa dos pecados que eram registrados no santuário com a purificação que acontece no contexto de Daniel, já que nesse ultimo caso a purificação se dá por causa de uma profanação que um rei muito mal cometeu dentro do templo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Pegar a palavra “purificado” e interpretá-la sem considerar o contexto é a mesma coisa que afirmar que as palavras só tem um só significado, o que seria um erro.       
                                                                                                   
 Além do mais, muitos leitores da Bíblia não conseguem perceber que o tempo das tardes e manhãs é a visão do holocausto diário (verso 13), ou seja, o santuário deveria ficar exatamente 2300 tardes e manhãs sem os serviços diários, isso está lá, é só ler!  Assim, como concluir que esse período começa em 457 AC e termina em 1844 DC? Sem cabimento! Um rei profana o santuário terreno no antigo testamento e isso só terminaria com uma purificação no santuário do céu?  

   O texto deixa bem claro que a partir do momento em que o rei que representava o chifre pequeno tomasse o santuário e perseguisse o povo de Deus, eles deveriam contar 2300 tardes e manhãs. Essa contagem não poderia ser a partir de 457 AC porque nessa data nem sequer existia a Grécia como o terceiro reino, uma vez que nesse tempo o domínio era o da Média Pérsia (segundo reino). A contagem das tardes e manhãs deveria começar em algum momento após o ano de 172 AC (tempo do fim da Grécia) e não voltar lá no tempo dos Persas (457 AC). Na verdade essa data marca o início das 70 semanas de Daniel 9 e não a profecia das tardes e manhãs como muitos pensam.  Do decreto para restaurar Israel (457 AC) até o surgimento do chifre pequeno (172 AC – tempo do fim da Grécia) há uma diferença de quase 300 anos!

   Assim, de acordo com as explicações acima, já podemos descartar a possibilidade de 2300 tardes e manhãs ser 2300 anos, uma vez que o povo santo e o santuário não seriam pisados por nenhum inimigo durante tanto tempo. Logo resta a pergunta, a visão da tarde e manhã representa quanto tempo?
     
Muitos erram essa profecia por entender que a profecia está se referindo a um tempo que equivale a 2300 tardes + 2300 manhãs, o que não é verdade. Duas mil e trezentas tardes e manhãs representam a quantidade de vezes que se conta a tarde e a manhã. Quer um exemplo? Quantas vezes você conta a palavra tarde e manhã na semana da criação? Perceba que até o sexto dia você terá contado 12 tardes e manhãs, é dessa forma que se conta as tardes e manhãs. Por que esse contexto é importante? O capítulo 8 de Daniel fala de um tempo em que o santuário ficaria sem o sacrifício diário e como o sacrifício diário acontecia à tarde e pela manhã o autor do texto usou essa linguagem. Em outras palavras, 2300 tardes e manhãs representam 2300 sacrifícios o que aconteceria em 1150 dias literais.

Qual é a prova concreta que essa conclusão está correta? Veremos abaixo que apesar do povo judeu e o templo nunca terem sido perseguidos por 2300 dias, contando a partir da volta de Babilônia até a destruição do templo no ano 70 DC, e muito menos foram perseguidos por 2300 anos, há argumentos factuais que comprovam que o povo de Deus (exército) e o santuário já foram perseguidos exatamente por 1150 dias. O santuário já foi tomado por um rei grego e ficou e o sumo sacerdote ficou por mais de 3 anos sem poder oferecer os holocaustos diários. Logo, não faz sentido a interpretação como sendo 1150 dias?
   
Então como aconteceu a confusão e concluíram que 2300 tardes e manhãs representam 2300 anos?  Tudo começa quando Daniel no fim do capítulo 8 diz que não entendeu a visão. Assim, concluíram que as 70 semanas é uma profecia dentro da profecia maior, já que o anjo estaria explicando novamente uma visão que Daniel não teria entendido na primeira explicação. Um erro. A pergunta é a seguinte, o que Daniel não entendeu na visão da tarde e manhã? Se você estivesse no lugar de Daniel em uma terra distante e sabendo que em seu país não havia mais o templo do seu Deus e que seu povo estaria espalhado pelo mundo e de repente você tivesse uma visão onde o templo, o sumo sacerdote e o povo fossem perseguidos duramente por um rei mau em Jerusalém, você entenderia a visão? Claro que não! Foi isso que ele não entendeu! Perceba que a mensagem central do capítulo 9 é falar sobre a construção do templo e sobre o que aconteceria ao povo judeu. 

   "Setenta semanas são determinadas para o teu povo" Daniel 9:24 “  Outra confusão que eles fazem é com a acepção da palavra "determinada". Segundo eles o fato da palavra determinada significar "cortada" prova que o tempo das 70 semanas seria cortado da visão da tardes e manhãs. Eles não conseguem perceber que cortar também pode significar "separar" ou "delimitar". Separar de onde? Separar um tempo especifico de um tempo infinito. A ideia de tempo é infinita para os filhos dos homens. Perceba que desde o momento da profecia até os nossos dias o tempo existe. E desse tempo todo qual parte foi "separada" para o povo judeu? As 70 semanas, começando em 457 AC até o ano 33 AC! É um erro dizer que as 70 semanas está inserida dentro dos 2300 anos! 

Concluindo essa parte, temos um rei grego, um rei não Roma como quarto reino, um rei que surge no fim do domínio grego (terceiro reino). Um rei que se torna muito forte e chega a tomar Jerusalém. Um homem que provoca uma grande perseguição aos judeus fieis e que inclusive toma o santuário a ponto de impedir durante 1150 dias literais a realização dos serviços diários.  Há na história alguém que pudéssemos apontar como o cumprimento dessa profecia? Alguém que ao apontarmos não saia da coerência Bíblica e da compreensão contextual? Veja o que o livro de Macabeus fala sobre um rei chamado Antíoco Epifânio IV.

  Vale lembrar que embora o livro de Macabeus não seja aceito como um livro inspirado pela maioria dos eruditos, há nesse livro um subsídio histórico muito grande e é desse subsídio que lançamos mão para esclarecer a profecia de Daniel 8. Leia abaixo um trecho do texto que fala sobre as ações de Antíoco Epifânio contra o povo judeu.

(...) 41Então, o rei Antíoco publicou um édito para todo o seu reino, prescrevendo que todos os po­vos se tornassem um só povo, 42aban­­donando as suas leis parti­cula­res.
To­dos os gentios se confor­maram com esta ordem do rei, 43e muitos de Israel adaptaram a reli­gião de An­tíoco, sacrificando aos ído­los e vio­lando o sábado. 44Por meio de men­sa­geiros, o rei enviou a Jeru­salém e às cidades de Judá car­tas, prescre­vendo que aceitassem os costumes dos outros povos da terra, 45suspen­dessem os holocaustos, os sacrifícios e as libações no templo, vio­lassem os sábados e as festas, 46profanas­sem o santuário e as coi­sas santas, 47eri­gis­sem altares, tem­plos e ído­los, sacri­ficassem porcos e animais imundos, 48deixassem os seus filhos incircun­cisos e manchas­sem as suas almas com toda a espécie de impu­rezas e abo­minações,49a fim de que esque­ces­­­sem a Lei de Deus e trans­gredissem todos os seus man­da­men­tos. 50Todo aquele que não obede­cesse à ordem do rei devia ser morto.
51Foi este o teor com que o rei escreveu a todo o reino; nomeou ins­pectores para obrigarem o povo a cumprir a sua vontade e ordenou às cidades de Judá que fizessem sacri­fí­­cios, em todas elas. 52Foram mui­tos os que, de entre o povo, aderi­ram e abandonaram a Lei. Fizeram muito mal no país 53e obrigaram os ver­da­deiros israelitas a refugiarem-se em esconderijos, afastados e ocultos.
 54 No dia quinze do mês de Quis­leu, do ano cento e quarenta e cinco, o rei edificou a abominação da deso­lação sobre o altar dos sacri­fí­cios, e construíram altares em todas as ci­da­­des de Judá. 55Queimaram incenso diante das portas das casas e nas praças públicas, 56rasgaram e quei­maram todos os livros da Lei, que en­contraram.57Todo aquele que tivesse em seu poder um livro da Aliança ou mostrasse gosto pela Lei, morreria, em virtude do decreto do rei. 58Era com este rigor que trata­vam Israel e todos aqueles que ha­bi­tavam nas suas cidades, mês após mês.
59No dia vinte e cinco de cada mês, sacrificavam no altar que es­tava levantado sobre o altar dos ho­lo­caus­tos. 60As mulheres que circun­cida­vam os seus filhos eram mortas, conforme o édito do rei, 61e os seus filhos, suspensos pelo pes­coço. Mata­­­vam também os domésti­cos e os que lhes tinham feito a circuncisão. 62Fo­­­ram muitos os israelitas que resol­veram, no seu coração, não comer nada de impuro, preferindo antes mor­rer, a manchar-se com ali­men­tos impuros; 63e preferiram ser tru­ci­­dados, a manchar-se com ali­men­tos impuros e a profanar a aliança san­ta. 64 Foi muito grande a cólera que caiu sobre Israel.

    Lendo essa primeira parte do livro de Macabeus é como estivéssemos lendo o próprio livro de Daniel. O rei Antíoco toma Jerusalém e persegue o povo de Deus. Em seguida proíbe a religião judaica, isto é, proíbe a guarda do sábado, proíbe a circuncisão, queima todos os livros da lei. Força os israelitas a comerem animais impuros. Também, estabelece leis para se construir vários altares aos deuses gregos em Jerusalém e suspende todos os serviços do santuário como os sacrifícios. O Cúmulo do pecado acontece quando o rei Antíoco estabelece uma abominação desoladora em cima do altar de sacrifício. Diz o texto que todo dia 25 de Kislev (calendário judaico) o povo era obrigado a sacrificar aos deuses com animais impuros. Quem não cumprisse tais ordens eram mortos.

 Interessante como que esse texto lança luz sobre o texto de Daniel, por exemplo, o texto de Daniel fala de transgressão assoladora no santuário só que em Daniel não há mais esclarecimentos sobre o que seria isso. No livro de Macabeus entendemos de transgressão assoladora seria essa, isto é, a construção de um altar pagão em cima do altar santo e manda sacrificar porcos nele. 

Veja a continuação do texto ...

Judas e os seus irmãos disseram então: «Os nossos inimigos estão aniquilados; subamos, pois, purifiquemos e res­tauremos o santuário.»
37 Reunido todo o exército, subiram ao monte de Sião. 38Ao verem a de­so­­lação do santuário, o altar pro­fa­nado, as por­tas queimadas, os átrios cheios de ervas, nascidas como num bosque ou nos montes, e os aposen­tos demo­li­dos, 39rasgaram as vestes, lamen­ta­­ram-se e deitaram cinza sobre a cabeça. 40Prostraram-se com o rosto por terra, tocaram as trom­betas e clamaram ao céu. 41Então, Judas mandou um destacamento a comba­ter os soldados da cidadela, en­quanto purificavam o santuário. 42De­pois, escolheu sacerdotes irrepreen­sí­veis e zelosos pela lei, 43que puri­ficaram o templo e transportaram para um lugar impuro as pedras con­tamina­das.
44 Deliberaram entre si o que se deveria fazer do altar dos holo­caus­tos, que fora profanado, 45e to­ma­ram a boa resolução de o demo­lir, para que não recaísse sobre eles o opró­brio vindo da profanação dos gen­tios. Destruíram-no, portanto, 46e trans­por­taram as pedras para um lugar conveniente sobre a monta­nha do templo, até que viesse algum pro­feta e decidisse o que se lhes devia fazer. 47E arranjaram as pedras intactas, segundo a lei, e construí­ram um novo altar, semelhante ao primeiro. 48Res­tauraram também o templo e o inte­rior do templo e purificaram os átrios. 49Fizeram no­vos vasos sagrados e transportaram para o santuário o candelabro, o altar dos perfumes e a mesa. 50Quei­maram incenso sobre o altar, acen­deram as lâmpadas do candelabro, para iluminar o templo, 51colocaram pães sobre a mesa e sus­penderam os véus, terminando com­pletamente o trabalho empreendido.
52No dia vinte e cinco do nono mês, que é o mês de Quisleu, do ano cento e quarenta e oito, levantaram-se muito cedo 53e ofereceram um sa­crifício, segundo a lei, sobre o novo altar dos holocaustos, que tinham levantado. 54Precisamente no mes­mo dia e na mesma hora em que os gentios o tinham profanado, o altar foi de novo consagrado ao som de cân­ticos, harpas, liras e címbalos. 55Todo o povo se prostrou com o rosto por terra, para adorar e bendizer aquele que lhes deu tão feliz triun­fo.56Du­rante oito dias celebraram a dedi­cação do altar e, com alegria, ofere­ceram ho­lo­caustos e sacrifícios de comu­nhão e de acção de graças. 57Ador­naram a fachada do templo com coroas de ouro e com pequenos escudos, consagra­ram as entradas do templo e as salas, nas quais colo­caram portas.
58Foi grande a alegria do povo, e foi afas­tado o opróbrio in­fligido pe­las na­ções. 59Judas e seus irmãos, assim como toda a assem­bleia de Israel, estabeleceram que os dias da dedi­ca­ção do altar fossem celebrados, cada ano, na sua data própria, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Quis­leu, com alegria e rego­zijo.60Nessa ocasião, cercaram a mon­­tanha de Sião com uma alta mura­lha e fortes torres, para que os gentios não viessem derrubá-las, como ou­trora tinham feito. 61Judas pôs ali tro­pas para a guardar e fortificou tam­bém Bet-Sur, a fim de que o povo tivesse uma fortaleza de protecção frente à Idumeia.

        Desse modo, o livro de Macabeus esclarece a profecia de Daniel 8. Antíoco Epifânio IV, surgindo dentro de um dos domínios da Grécia, torna-se rei em 175 AC e no ano de 168 AC estende seu poder para a palestina. Em 167 AC proíbe o culto judaico e toma o santuário impedindo de se realizar holocaustos nele. Também comete  abominações dentro do templo sacrificando animais impuros dentro dele e colocando a estátua de deuses pagãos nos átrios da casa do Eterno. No ano de 164 DC os judeus se levantam cedo e fazem uma grande festa para purificar o templo e restabelecer os serviços sagrados do mesmo. A contar a partir do momento da proibição da religião judaica até a purificação do santuário temos um total de 1150 dias ou 2300 sacrifícios conforme predita na profecia

     
Aqueles que dizem que o chifre pequeno não pode ser Antíoco Epifânio pelo fato do texto dizer que o chifre pequeno se tornaria muito forte e que nunca o Epifânio teria sido tão forte assim principalmente quando o comparamos com Roma, desconhecem a história e as questões de relatividade. Veja, o Brasil aos olhos dos Estados Unidos é um país insignificante economicamente e militarmente. Não obstante, o mesmo Brasil é um país muito forte aos olhos dos bolivianos. Aos olhos dos judeus Antíoco Epifânio IV foi sim muito forte. É relativo, ele como um rei pode até ser inferior ao compararmos com os grandes imperadores de Roma, é verdade, no entanto, diante dos judeus e diante dos reis que governavam a Grécia que é o contexto da profecia por algum momento ele foi sim muito forte.  

Logo, concluímos que contra os fatos não há argumentos. Isso que apresentamos acima são fatos e não pontos de vista. Fica claro que o chifre pequeno é Antíoco Epifânio e a visão do sacrifício diário mostrado como as 2300 tardes e manhãs é o tempo de 1150 dias, ou seja, foi o tempo em que o santuário ficou sem sacrifícios e a religião judaica proibida. A purificação do santuário se deu no ano de 164 AC quando os judeus fizeram uma cerimônia para “limpar” e santificar novamente o santuário para o reúso. Outra coisa que ficou evidente é que muitas doutrinas como a doutrina do juízo investigativo em 1844 DC são grandes equívocos gerados por dificuldades na compreensão daquilo que realmente o texto fala. Como foi comentado acima, o ato de interpretar versos desconexos, sem considerar todo o contexto, é o principal motivo das extrapolações. A pessoa pega o verso que fala do chifre pequeno e o interpreta como sendo Roma sem mesmo prestar atenção que o chifre surge na cabeça do bode (Grécia). Para terminar, deixamos uma dica para os estudiosos da Bíblia, primeiro devemos compreender aquilo que o texto fala para somente depois, por meio da interpretação, compreender os sentidos, os implícitos e as entrelinhas do texto.